Não, eu não estou falando da nova print da Angelic Pretty, mas de outra novidade que também tem seu próprio culto de fãs. As pessoas geralmente ficam sabendo de lançamentos da Apple e do iOS, mas esse tem mais probabilidade de afetar sua vida diária (ou não, como eu vou descorrer a seguir).
O mercado brasileiro de celulares tem um dono muito claro: o Android. Um pouco mais de 70% dos brasileiros possui um celular com esse sistema operacional.
No dia 15 de outubro foi lançado a nova versão do Android, o 5.0. Para quem não sabe, o sistema é da Google e tradicionalmente coloca nomes de doces seguindo a ordem do alfabeto. A versão 4.4 era K, e se chamava KitKat; a anterior, Jellybean (J); e por aí vai.
O sistema tem várias funcionalidades novas incríveis que você pode conferir pelo
site oficial. Ou então, se você for uma pessoa mais visual, dá uma olhada no site da
Tecmundo que tem imagens de várias telas mostrando a interface bem flat, seguindo a moda atual.
E provavelmente, você só vai poder conferir por lá mesmo...
Junto com o lançamento do Lollipop veio a triste constatação:
existe muita chance de eu não conseguir usá-lo no meu celular. Nem você.
A regra dos 18 meses
Uma das coisas que surpreende algumas pessoas com quem converso é a volatividade da indústria da moda. Cada estação é uma loucura para apresentar tendências diferentes de roupas e maquiagens e nos fazer comprar mais e mais. Por mais que eu tenha plena compreensão de que isso é somente para incentivar o consumismo desenfreado, faz um pouco de sentido pra mim fazer isso na indústria de roupas. Afinal, você não usa um casaco no verão ou biquíni no inverno. Existe uma necessidade de adequar a roupa a certas situações.
Agora, um celular é o mesmo em qualquer situação. Você usa o mesmo celular pra ir para o trabalho, pro cinema, prum casamento. Por isso que as pessoas só tem um, geralmente (ou dois se têm muitos números, mas mesmo assim é possível comprar um só que comporte vários chips).
Então como você vai fazer as pessoas gastarem com tecnologia?
Invente a regra dos 18 meses.
A regra é a seguinte: não atualize nada em dispositivos lançados há mais de 18 meses. Mesmo que seja o dispositivo top de linha, e que tenha sido um investimento caríssimo, não importa - não é novo o suficiente.
Assim, você cria uma falsa necessidade: quem compra um celular de lançamento, se sente satisfeito imediatamente porque possui coisas a quais muitas pessoas não têm acesso. Quem não consegue comprar um lançamento é "punido" com falta de acesso às melhores funcionalidades do mercado. E a pessoa que compra um lançamento, em um ano e seis meses, às vezes sem ter nem ao mesmo terminado de pagar, perde a satisfação da compra. Você paga preço de lançamento, pagando um contrato de aluguel de 18 meses de sentimento de special snowflake, basicamente, que já começa a decair quando a próxima geração é lançada (que ocorre geralmente em um ano).
Ter consciência de que isso existe na indústria por fins totalmente racionais não faz com que eu pare de pensar que isso é um pouco louco.
Nos EUA até faz um pouco mais de sentido porque existem MUITOS planos de compras junto com os serviços telefônicos, o que torna essa troca natural e vantajosa. Algumas operadoras até recebem celulares antigos, como se faz com carros antigos nas concessionárias.
Aqui no Brasil, a gente vê nosso dinheiro escorrer pelas mãos...
Obsolecência programada
O termo para essa situação é
obsolecência programada. Obsolecência vem de ficar obsoleto; e programada, porque isso é feito propositalmente pelas indústrias de várias áreas. Acho que o caso mais famoso é o das lâmpadas, que antigamente duravam por muitos e muitos anos, mas foram reformuladas para durar alguns meses para venderem mais. Um
artigo que resume bem isso da Época, e para quem tem mais tempo e interesse, o
documentário Light Bulb Conspiracy.
Eu tenho um Galaxy Note 2. Eu não paguei barato nele, nem um pouco. Vai fazer 2 anos em Janeiro que tenho ele - mas ele já está ultrapassado demais para receber o Android novo. Foi lançado no outono de 2012, então ele já passou pela regra citada acima.
Mas ele funciona perfeitamente, sem problema algum. A obsolecência da tecnologia tem muito mais a ver com a pressão de uma sociedade neófila que quer tudo pra ontem, do que o caso das lâmpadas, que é funcional. É mais para você se sentir fora da turma e enxergar um produto que funciona perfeitamente bem como algo obsoleto, por causa de algumas funcionalidades - e muitas, senão todas, são cuidadosamente lançadas pouco a pouco para que sempre haja algo novo. Ou seja, grandes chances das empresas já terem toda a tecnologia e capacidade para lançar coisas novas até mais duas ou três gerações de produtos.
Nota: não saiu nada oficial da Samsung sobre o Note mas eu estou supondo que não vai haver a atualização por um motivo muito simples - eu não recebi nem a versão anterior, a Kitkat (4.4), apesar de ter sido lançado fora do país. Aqui sei lá, não ligaram muito? Não entendi muito bem. E não acho que vão começar a magicamente se importar com o meu celular e disponibilizar o 5.0 não é mesmo?
O que eu posso fazer nessa situação?
- Ceder a pressão e gastar mais alguns milhares num celular lançamento (porque os modelos mais baratos também não vão receber o Lollipop);
- Continuar usando meu xuxuzinho que eu amo de coração até a última gota mesmo com seus defeitinhos
Yeap. Já tomei a minha decisão.
Indústria da moda e da maquiagem, vocês ainda conseguem me pegar. Mas se a minha auto-estima começar a depender também de quanto status tem minha tecnologia, eu não vou poder ser um ser humano saudável e feliz.